27 de janeiro de 2015

Mero Acaso

Sou a contradição entre a razão e o instinto:
Meu lado animal é fato
Meu lado homem é mito

Meus grandes olhos são armas nucleares
Sou homem de poucas palavras
E muitos olhares

Meu tempo é um sujeito errante
Não me julgues pelo agora
Séculos compõem o meu instante

Eu sou um quebra-cabeça das impressões que causo
E cada impressão traz um equívoco
No fim, eu sou um mero acaso...

Anderson Lopes



A Noite



A noite me beija com seu hálito fresco
E me envolve em seu encanto pagão
Negra
Nua
Inebriante cortesã do ébano
A escancarar a vastidão do seu sexo
Por entre as esquinas
 
Pura
Crua
A lua é uma pérola entre os seios
A contemplar sua nudez
 
A noite
Numa sedução que me entontece
Embriagado dela
Eu perco o juízo
A manhã virá me encontrar caído
Sonolento de prazer
 
[Anderson Lopes]
 

Volume Morto



Descobriu-se que não existem sapos
Na lagoa da terra da garoa
Só lixo
E o registro
De povos antigos
Revelados pela seca

Todos os anos de enchentes
Não foram suficientes
Para impedir que o sol
Estancasse a água
Secasse as línguas
Matasse de sede...


[Anderson Lopes]